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A São Paulo dos lambe-lambes

novembro 13, 2007

Arte Pop + velha tradição = Lambdalambs

Lambdalambs

Fazer com que a poesia se misture com a paisagem urbana, caótica e vertiginosa. Transformar em beleza um amontoado de prédios, portões, muros e espaços vazios ou decadentes. Comunicar-se com todas as pessoas, em todos os lugares, todos os dias, numa linguagem simples, direta e rápida. Revelar-se, afirmar as mais profundas expressões e idéias. Provocar reflexão nos olhos de quem passa. Fazer da cidade uma imensa galeria, gratuita, repleta de uma arte tradicional e popular, já quase esquecida…

Nos últimos anos, esses têm sido os ideais que movem alguns jovens artistas. Nos Estados Unidos, grafiteiros passaram do spray para o silk-scream e começaram a espalhar seus ‘licks’ – nomes, símbolos, figuras e gravuras – pelos lugares mais inusitados das grandes cidades. Aqui no Brasil, eles foram ainda mais longe, e misturaram o silk, a fotografia, a colagem e a pintura. O resultado? Arte!

Lambes (ou licks, em inglês) são aqueles cartazes colados em postes, muros e outdoors pela cidade. Mas, agora, a sua função meramente informativa ou publicitária foi subvertida, dando a eles uma linguagem de expressão artística. Os lambes são ‘silkados’ em papel ou com sobras de material de outdoors e adesivos. E, como são muito mais fáceis e rápidos de aplicar do que o grafite, muitas vezes proibido ou complicado de executar quando se trata de um trabalho mais elaborado, logo atraíram os grafiteiros e os mais jovens artistas.

“Em conjunto chegamos a silkar cerca de 1000 lambes em um mesmo dia. Por sermos em doze pessoas, num rolê colamos mais de 300 lambes pela cidade”, dizem os artistas do Lambdalambs.

O grupo, formado em setembro de 2004, tem em comum a forte necessidade de expressar a sua arte e o objetivo de intervir na cidade de São Paulo, usando-a como canal de comunicação. A união dos 12 artistas – algo que dificilmente ocorre nos Estados Unidos, onde a arte é expressa de maneira mais individual – acaba misturando diversas influências e referências, como grafite, quadrinhos, esculturas, fotografia, vídeo, design gráfico, ilustração, cinema, etc. E assim, ao menos neste caso, a união realmente faz a força.

Jey, Guid, Boleta, Pato, Zeila, Vermelho, Crespo, César, Fé, Dinho, Berlim e Tidi, todos provenientes de escolas públicas, já realizaram várias exposições: Digitofagia (MIS, outubro de 2004), Expopcom (FunHouse, dezembro de 2004), Combonights 4 (mezanino do Edifício Copam, janeiro de 2005) e Expo Catalixo (Galeria Choque Cultural, janeiro de 2005). Para mostras assim, os trabalhos apresentados são versões dos lambes ou, o que é mais interessante, pinturas sobre lambes, com adição de colagens e reciclagem, mostrando uma criatividade e um domínio técnico semelhantes aos de artistas profissionais mais experientes. Também há fotografias de suas intervenções pela cidade – colagem dos lambes em caixas de energia, paredes, bueiros e outros locais.

“A idéia do Lambdalambs é existir e fazer parte do cotidiano da cidade, projetando a arte principalmente fora das galerias, em convívio com a sociedade”, afirmam. Agora, seus trabalhos podem ser vistos na Pizzaria Conchetta, no Bixiga (rua Conselheiro Carrão, 374, tel.3285-5768) ou no site http://www.lambdalambs.rg3.net.

 

Projeto Lambe-Lambe

Mais lambes

Um outro grupo, composto por 18 artistas, foi formado em 2003 com os mesmos objetivos e anseios. Naquele ano, o Projeto Lambe-Lambe espalhou pela cidade mais de 5 mil lambes, com gravuras e poemas feitos em xilogravuras e tipos móveis de madeira. Mais tarde, ainda lançariam o projeto “Vamos gravar o rinoceronte do Dürer”, com a produção de 250 cartazes de 3×2,26m da famosa gravura feita pelo artista alemão Albretch Dürer.

 

Quer um retrato?

Lambe-lambe referia-se, antigamente, ao fotógrafo ambulante, que andava pela cidade oferecendo retratos em retribuição de alguns trocados. Hoje, esse ‘profissional’ é difícil de encontrar, mas o nome foi apropriado por aqueles que fazem o lambe, graças à rapidez e facilidade com que espalham seu trabalho pelas ruas, tornando acessíveis a qualquer transeunte – como os antigos retratos.

 

Texto: Juliana Leite (publicado no Jornal da Praça in Revista em fevereiro de 2005) / Fotos: Juliana Leite (trabalho do Lambdalambs no topo da matéria) e Projeto Lambe-lambe

4 Comentários leave one →
  1. tomás permalink
    dezembro 26, 2007 4:04 am

    Me interesso muito por grupos como aparentemente vocês são. Não lí muitas coisas mas gostei bastante do blog. Curto muito os lambe lambes de São Paulo apesar de não praticar esta arte… Na verdade estou escrevendo aqui pois também faço parte de um grupo que pensa intervenções na cidade; surgiu como um grupo de estudos de universitários de diversos cursos, porém após um ano e meio intenso de vida, parece ter acabado. Está forma de ser e se juntar destes grupos parecem tentar ser extremamente fluída e então me questiono sobre como fazer com que estes encontros perdurem? Se é que devem continuar, num sentido de como continuar com algo que não se torne instituído?
    O que vocês pensam sobre isso?
    Abraços
    Tomás

  2. Gabriela saraiva permalink
    julho 8, 2008 2:28 pm

    Olá, gostaria de saber onde posso conseguir alguns lambes-lambes para cobrir uma parede do estudio onde trabalho.
    Aguardo.
    Obrigada
    Gabriela

  3. contemporaneando permalink*
    julho 8, 2008 11:30 pm

    Oi, Gabriela!
    Entra no site do Lambdalambs: http://www.lambdalambs.rg3.net/
    Lá você encontra imagens, fotologs da maioria dos participantes do grupo e contatos deles, ok. Depois me conta se conseguiu falar com eles.
    Abraço!
    Juliana

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