Pular para o conteúdo

Fogueira e arte

novembro 11, 2007

São João, São João, acende a fogueira no meu coração… Neste mês, há fogueiras acesas em todos os corações, e a alegria simples, sem compromisso, brinca em todos os sorrisos. Cantigas de roda e quadrilha recontam a história de sempre, no compasso da viola. Junho é festa, festa, festa…

Mas nem só de festa se faz a história, e nem só a ciranda move o tempo, alheia a tudo. Como numa espécie de sonho, chegam notícias mais sérias, notícias de revolução. Aqui, nesta praça, sob as bandeirolas coloridas, há gente que se levanta para defender o seu espaço desde sempre ameaçado. Há artistas, artesãos, políticos e pessoas influentes se movendo numa dança diferente, bem urdida.

Estão se articulando, na Câmara, para fincar as nossas raízes nesta República, com um projeto de lei que impedirá qualquer um de nos arrancar do solo antigo. Estão se unindo, se fortalecendo, embora poucos, ainda, saibam, embora poucos, muito poucos, tenham despertado suas consciências para essa luta complicada, para o que é preciso ser feito.

Tão mais fácil ficar à sombra, ouvindo a cantiga junina ao longe, contemplando desapaixonadamente a própria obra… E eu… Eu falo com a voz da fogueira. Eu falo com a voz dos balões coloridos de pedidos e esperanças. Eu falo com a voz do repentista e sua cultura. Eu falo com a voz da Arte. Porque precisamos gritar em todas as línguas, de todas as maneiras, na Câmara e na Praça, e revelar a nossa Arte – a Grande Arte da República – a todos. Precisamos lutar com todas as armas, e dar as mãos nesta ciranda inesgotável.

Precisamos mostrar que somos fortes, que somos um grupo, que somos uma enorme tribo, que somos Artistas. E precisamos colocar a nossa marca no mundo, porque, um dia, tudo mais se apagará, como a fogueira de São João.

 

Artigo de autoria de Juliana Leite, publicado originalmente no Jornal da Praça in Revista, em junho de 2004

No comments yet

Deixe um comentário